domingo, 6 de dezembro de 2009

“(...)Não havia um canto que não estivesse cheio de gente, nenhuma pedra
Nenhum pedacinho de terra que não cheirasse a coisa humana.
Que essa massa humana, durante dezoito anos o havia oprimido
Como uma atmosfera prenhe de tempestade
Só se tornava claro agora.”

E ali, não outrora, não outra vida,
Ouvia, soluçava, não sentia
Escutara, mas nunca dizia.

Tirada a suspeita estava.
De seus sentidos, da sua razão
Deixou na face ostentar, o que lhe sempre esteve às fuças.

O quanto derrubavam, o quanto mentiam,
O quanto mudavam, o quanto pecavam,
O quanto fingiam, o quanto destruíam

Num suspiro, desabafado, de velho-novo conhecimento
Entrevira bichos, de tantos ossos, desengonçados, entrelaçavam-se
Deles, nada restaria mesmo, seriam enterrados
Nada de lembranças, nostalgia, logo, soterrados estariam

Surge então, a resposta – ah –, a pergunta - ? –, mas nunca a dúvida.
Aquele sorriso que só não lhe roubava mesmo, a memória,
porque não a mais tinha

Em retirada, já não estava mais a névoa, cinzenta? Cinzenta.
Apareceu realmente-real-agora, só agora,
Colorido, ela enxergava tanto quanto o via, não acreditava
Surreal era, surreal fosse, né!

Incrível toque, coincidência, apego, o outono lhe trazia
Lhe mandando a nova sinfonia
Sem procurá-la, do cosmo vinha, à simetria, voltava e vinha

Daquele olhar que cheirava o sol, a infância, a gota

Lembrara das companhias, da canja que comia, da calçado que usava
Em vista disto, não doía
De alívio acordou, transbordou, pulou

- Segura minha mão – disse ela fechando os olhos, gelou
Segurou fortemente forte! Estava segura de novo, pensara
Pedido o qual, não permitia que lhe escapasse.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Engordai-me pelos nadis, amém!

sábado, 24 de outubro de 2009

Pedaço de Guernica, 1937


Obra prima de um dos maiores artistas do século XX, o espanhol Pablo Picasso. Produzida em 1937, refletia os horrores da guerra e do bombardeio pela força aérea nazista da pequena cidade de Guernica, em meio à Guerra Civil Espanhola.
Então... perdoar, torna-se a maior virtude.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Das dores maiores, me encomoda o apego."

sábado, 19 de setembro de 2009


Instalação de Ready Made.

De Fernando Pessoa

[...]Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície.
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.[...]

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e componente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequeência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o destino me conceder, continuarei fumando.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

‘Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres’

[...] Então, sentou-se para descansar
E em breve fazia de conta que ela era uma mulher azul
Porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul

Faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações
Faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos
Faz de conta que uma veia não se abrira
E faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate
E que ela não estivesse pálida de morte
Mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade

Precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca
Para que se contrastasse com o faz de conta verde-cintilante
Faz de conta que amava e era amada
Faz de conta que não precisava morrer de saudade
Faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus

Não Lóri, mas o seu nome secreto que ela por enquanto não podia usufruir
Faz de conta que vivia e não que estivesse morrendo
Pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte
Faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade
Quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam
E ela não sabia desfazer o fino fio frio

Faz de conta que ela era sábia bastante
Para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos
Faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua, pois ela era lunar
Faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão

Faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta

Faz de conta que se descontraía o peito
E uma luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranqüilas mortalidades
Faz de conta que ela não era lunar
Faz de conta que ela não estava chorando por dentro[...]

C. Lispector

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Mais um dia não-completo



Sinto-me insatisfeita
Sensações serenas
Sensíveis e quem sabe sedutoras

Nunca tão sentimental
Sem vergonha,
Mas nada semelhante ao sentido da escuridão
Semi consciente?
Semi transparente?

Seguindo tal instinto
Selvagem e semimorto
Senil, sem terra, sem teto
Sem sentimento, sem crença

Será sentença sem fim?
Existe um fim?
Sete segredos seguros
Sobre seios semi nus
Qual o sentido?

Sobre a cama sentada
Semeei sementes sem sentido
Semelhante ao senso
Foi sereno ou sintético?
Mas hoje já é segunda, sete de setembro


F.Evers